Cultura do cancelamento: ativismo seletivo?

A internet parou e a cancelada da vez é Karol Conka. Qual o próximo da lista?

Clarissa Antunes 03/02/2021

A internet parou essa semana. A culpada? A rapper Karol Conka, que aparentemente é a protagonista do Big Brother Brasil 21 pelas suas atitudes extremistas. A cultura do cancelamento reina e o movimento para a expulsão de Karol da casa só cresce em proporções gigantescas. Criaram até uma petição on-line que já alcança quase 400 mil assinaturas em apenas 2 dias.

Petição do change.org viralizou

Desde adolescente eu assisto BBB mas agora o meu olhar analítico está voltado ao comportamento das pessoas nas redes sociais, às ações que as marcas desenvolvem, ao posicionamento da própria Globo na estratégia de distribuição multicanal – óbvio, trabalhando com marketing digital esse programa é um poço de inspiração: enquanto a galera tá lá dentro confinada, eu estou estudando aqui fora e tendo milhares de insights. Inclusive o BBB foi o tema que inspirou o meu primeiro podcast.

Voltando ao que interessa...


Quando vi esse break down na internet eu fui buscar os fatos. Olha só a resposta do social media da Karol no twitter:

Trechos da resposta da rapper no twitter.



Nesta terça-feira 02/02 o Tiago Leifert abriu o programa falando sobre a cultura do cancelamento. Ele citou como os "canceladores" não dão a oportunidade do cancelado falar, de crescer com os seus erros e mudar. O foco aqui não é se a rapper está certa ou errada, o foco é o efeito dominó da cultura do cancelamento. Segundo o post no twitter, as pessoas tem destilado ódio em forma de ameaças à conta da sister. A audiência canceladora tem prometido expurgar de vez a sua presença, acabando com a sua carreira, massacrando.

Os canceladores querem justiça e não vão descansar enquanto esta não seja feita, eliminando de vez a sua presença no programa. As pessoas estão completamente envolvidas como se fossem parte da vida dela, como se conhecessem o seu histórico de vida, se sentindo no direito – enquanto protegidas pelas telas dos seus dispositivos, a cancelarem a sua presença no mundo.

Vendo isso tudo acontecer eu acessei a “Petição para Karol Conká ser retirada do Big Brother Brasil” e naveguei pelas petições ativas do change.org. Curioso – ou não – é que pautas muito mais relevantes não ganharam a mesma visibilidade. Confere nesses prints um resumo do que tem por lá. Independente do aparente distúrbio comportamental da participante do BBB, me fala: até quando vai esse ativismo seletivo das pessoas na internet?

Petições ativas no change.org



O cancelamento existe – infelizmente, e as pessoas não tem filtro. Viu a galera cancelando? Cancela também. Viu a repercussão negativa de qualquer coisa? Vai lá e apoia sem ler, pesquisar e tentar entender para construir a sua percepção pessoal. São os seres humanos que controlam a força da velocidade da informação na internet e parece que todas as suas frustrações são colocadas no apoio a um movimento. Mas só os movimentos que a maioria apoia, senão não tem graça. Não tem graça falar sozinho, não tem graça massacrar se todo mundo não tá fazendo igual. É muito mais fácil viralizar uma polêmica - e a maioria delas envolvendo as celebs, porque as possibilidades de pautas são infinitas, as pessoas são dominadas pelo desejo da fofoca, a vontade de compartilhar e de opinar - mais uma vez, porque se sentem livres na internet. Tudo vira meme, discussão e aí já viu, né?

Muito se fala que as redes sociais controlam a vida das pessoas, mas será que as pessoas se preocupam com os seus clicks?

A internet, hoje, é o principal meio de comunicação de muita gente. Você não precisa pagar pra ter uma conta nas principais redes sociais. O único preço que você paga é o de existir ali, porque hoje você é o cancelador, mas amanhã pode ser o cancelado. Amanhã você pode estar sofrendo todos esses ataques e sendo obrigado a retirar o seu banquinho e deletar a sua existência.

Reflita sobre o que você apoia por aqui. Sempre é tempo.